O Processo Eleitoral, a Qualificação do Eleitorado e a Igualdade Social.
Hoje fui ao mercado comprar algumas coisas e, na hora de passar no caixa, tive uma visão bastante crua e real sobre nossa sociedade. Não é que Eu tenha descoberto algo novo, mas o evento funcionou como um gatilho de um processo mental muito maior. Se esta munição é de festim, somente o tempo dirá.
Antes de avançar nesse ensaio, gostaria de deixar bem claro para o leitor a minha intenção ao escrever esse material:
Quero incomodar e provocar os acomodados, desafiar os que se julgam senhores da verdade, e principalmente, propor que o leitor calmamente reflita sobre o assunto.
Que você seja racional e imparcial ao fazer sua análise.
Converse com seus colegas sobre o post, fale com sua família. Elabore uma linha de pensamento.
Por favor, depois me diga sua opinião, afinal; pensar, opinar e decidir é exatamente o tema deste material.
Permita-me começar fazendo uma pergunta.
Quanto pesa o seu voto?
Você pode estar achando que o Gart enlouqueceu de vez. Essa é uma possibilidade real, mas não acredito que seja o caso – ao menos por hora.
Sim. O voto pesa e Eu vou dizer o quanto.
Vamos analisar o nosso processo eleitoral em alto nível (sem muitas tecnicalidades no momento) e com abstração suficiente para permitir o mínimo de fluidez ao texto.
Para isso, divido em dois tipos o nosso eleitorado brasileiro. Claro, estou sendo o mais abrangente e generalista possível – entenda como uma licença poética necessária para exposição da ideia.
Eleitor tipo 1 (Uma representação da regra, sabendo que existem exceções)
- Sou uma pessoa alfabetizada ou com escolaridade mínima, mas com muita dificuldade de interpretação de textos mais complexos e compreensão de assuntos que fogem ao meu cotidiano.
- Quando trabalho, tenho uma renda baixa, complementada por “bolsas” de toda sorte e de todas as esferas do governo.
- Por diversos motivos, não participo e nem mesmo me sinto membro da sociedade.
- Tenho “representantes” políticos que funcionam como espelhos côncavos para as mazelas da minha classe social.
- Espero muito do governo eleito, contribuo muito pouco, tenho muitos filhos e sem qualquer planejamento.
- Estou sempre aguardando uma oportunidade para sair dessa situação – mesmo sem saber como.
- Voto por obrigação. Quero que o político eleito me ajude a ter algum retorno imediato.
- Meu entendimento sobre o funcionamento de uma república federativa é mínimo ou nulo.
- Minha compreensão de boa administração normalmente não têm qualquer relação com macro ou micro economia nacional, ou qualquer outro critério de relevância administrativa.
Eleitor tipo 2 (Uma representação da regra, sabendo que existem exceções)
- Sou uma pessoa com escolaridade média ou superior, tenho bom entendimento de textos mais complexos e uma capacidade cognitiva trabalhada suficientemente.
- No trabalho exerço funções das mais variadas, desde apoio e análise, até a gestão de organizações e negócios. Minha renda varia desde a classe média até os considerados “ricos”.
- Participo pouco da comunidade política e social.
- Tenho “representantes” políticos que funcionam como espelhos convexos do que considero necessário.
- Espero muito do governo, contribuo financeiramente de forma esmagadora, tenho cada vez menos filhos – quando os tenho.
- Luto diariamente para me manter na “corrida dos ratos”. Alguns conseguem sair.
- Voto na maioria das vezes por obrigação. Ao escolher um representante procuro identificar as possíveis melhorias que o mesmo traria para mim e para minha classe (social, profissional etc).
- Meu entendimento sobre o funcionamento de uma república federativa já foi muito melhor, mas está cada vez mais enferrujado, confuso e deteriorado pelo tempo e desuso.
- Minha compreensão de boa administração está diretamente atrelada ao número de escândalos, obras prometidas x realizadas, inflação percebida nas compras do dia a dia e taxas de juros em financiamentos de bens móveis e imóveis.
Qual o peso do voto do eleitor tipo 1, e qual o peso do voto do eleitor tipo 2?
Você, prontamente, e com toda a certeza da exatidão democrática brasileira atual, me responderá:
“Todo voto tem o mesmo peso e valor.”
Parabéns!
Você também assistiu ao mesmo material que prega essa abordagem como justa e correta.
E quando vamos procurar um emprego, quanto pesa o seu diploma, a sua facilidade em trabalhar em equipe, seu inglês, espanhol, chinês etc?
E todo o esforço que você faz para viver com dignidade, manter o trabalho, ter algum conforto e pagar os impostos?
Por que você precisa ser um semideus para conseguir aquele tão almejado cargo/salário, mas basta ter jogado futebol a vida toda, ou ter sido um palhaço, para ganhar muito mais, e ainda ter “imunidades” sociais e criminais?
Você contrataria para diretor ou gestor da sua empresa um palhaço, semianalfabeto e que, publicamente, diz não saber o que vai fazer? E um estilista para a função de engenheiro?
O RH da sua empresa ficaria feliz com essas suas indicações?
Eu duvido muito.
Por que cargas d’água cometemos essas atrocidades com a organização mais importante que fazemos parte e que altera diretamente toda a nossa vida – profissional e pessoal?
A resposta é simples:
Os votos dos dois tipos de eleitores apresentados têm o mesmo peso. É por isso!
Vamos analisar um pouco a situação.
Para o eleitor do tipo 1, esse tipo de aberração é apenas um retrato da sociedade e, provavelmente, se Ele mesmo tivesse a oportunidade, também seria candidato.
Você sabe o que faz um deputado federal?
Nem ele. Lembra?
Para o eleitor do tipo 2, votar em tal palhaçada, seria uma ofensa para muitos, mas também seria igualmente “divertido” e “transgressor” para muitos outros.
A verdade é que, para ambos os tipos de eleitores, uma formação específica para conscientização real sobre a sua participação na organização chamada Brasil se faz necessária e é urgente!
Lembro-me bem de ter aprendido OSPB nos tempos de escola (sem entrar no mérito da época).
Para os leitores mais novos:
OSPB é o acrônimo para Organização Social e Política do Brasil e que foi ensinado até o início dos anos 90. Não era nenhuma maravilha, mas trazia para os estudantes elementos essenciais para a compreensão do funcionamento e as características constituintes do nosso país. O tipo de informação que OSPB trazia, só encontrei novamente quando cursava a faculdade de direito...
Voltando ao cerne, minha proposta é:
Vamos atribuir pesos diferentes aos votos dos diferentes tipos de eleitores.
Seria o estabelecimento de uma Meritocracia Eleitoral.
Mudar a obrigatoriedade do voto não muda o tipo de eleitor e, por isso mesmo, o consequente resultado de uma eleição. A forma é relativamente simples:
- O voto continuaria obrigatório.
- Todos continuam tendo direito ao voto.
- Todo eleitor tem o voto com peso 1, desde que ainda não tenha prestado o exame de “meritocracia eleitoral”.
- Caso o leitor queira “pontuar” mais na eleição, assim como fazemos para dirigir um carro, ele deve fazer o download da apostila de atualização eleitoral, ou retirá-la impressa em sua zona eleitoral.
- A apostila de atualização eleitoral deve contemplar temas elementares, tais como:
- Organização Social e Política do Brasil
- Votação defensiva (sim, você entendeu a ideia)
- Primeiros Socorros da sociedade brasileira
- Melhoria de Processos Públicos e Serviços ao Cidadão
- Responsabilidade Social e Ecológica
- etc
- Após estudar a apostila, o eleitor agenda seu exame e faz o teste.
- Seu desempenho é apresentado imediatamente e, caso seja necessário, nova prova pode ser feita após um ano.
Com o resultado do exame, o eleitor receberá um índice que será atrelado ao peso original do seu voto (1).
Dependendo de sua pontuação, o eleitor pode ir desde peso 1 até peso 2.
Ou seja, independente da classe social ou nível de escolaridade, todo cidadão brasileiro, que tem verdadeiro interesse em participar da sociedade para ajudar a definir o rumo da nação, poderia estudar, se preparar, aprender e avaliar seus conhecimentos com o exame de Meritocracia Eleitoral.
Alguns impactos imediatos no processo eleitoral e no eleitorado:
- Teremos eleitores originais (com peso 1), que naturalmente se sentirão incomodados com essa situação e, se for de seu feitio, lutarão para galgar novos pesos. Caso contrário, permanecem com o voto com o peso que têm direito até hoje.
- Teremos eleitores qualificados (peso maior que 1). Esses se sentirão diferenciados e reconhecidos pelo seu empenho, conhecimento, envolvimento etc. Ou seja, o sentimento de valorização do cidadão por seu mérito.
- Os eleitores qualificados tendem a se tornar mais ativos na política e socialmente.
- Os partidos políticos, frente ao conhecimento e o crescente envolvimento político-social dos eleitores, deverão escolher cada vez melhor os seus representantes para disputa de cargos nas eleições, pois os palhaços, os jogadores de futebol, os suspeitos de crimes – que nunca são condenados, ou qualquer outro “político” desse tipo terá cada vez menos atratividade. Cada vez menos apelo e cada vez menos votos.
- O eleitor original, que quiser ver um representante seu, servindo a sociedade – e não apenas no poder, precisará cada vez mais entender o que é ser um representante e qual sua verdadeira missão enquanto servidor público. Isso reduzirá muito o índice absurdo e pueril de popularidade que vimos ultimamente – conseguido claramente com medidas populistas e de manobra de massa desqualificada até mesmo para avaliar o trabalho realizado.
É preciso ter humildade suficiente para assumir que estamos no caminho errado. Para fazer essa mudança de postura não basta reconhecer que o Brasil cometeu muitos erros, mais importante ainda é aceitar que está na hora de promover a mudança.
Está na hora de tirar os antolhos, deixar a demagogia, ser prático e pragmático.
É preciso parar de aceitar e velar essa igualdade que nunca existiu entre as classes. A falsa igualdade que a nossa recente democracia preza é evidentemente uma forma de manter o status quo, de não tirar os grupos que até hoje estão no poder. Ou você realmente acredita que é representado por algum político ou partido?
Se sim, proponho uma prova de fidelidade ao formato atual:
Que tal você deixar sua família viver com tudo que é feito, provido e prometido pelos “políticos”?
Nada de escolas particulares, carro particular ou plano de saúde. Tudo deverá ser feito pelo serviço público.
Você topa?
Bom, antes de ser acusado de elitista ou qualquer outra cafonice dessas, quero deixar registrado que minha origem familiar é basicamente formata por eleitores do tipo 1. Portanto, a acusação não vai colar.
;)
Finalizando, gostaria de ratificar aqui o principal elemento proposta na meritocracia eleitoral:
Nós, brasileiros, ainda achamos que devemos dar comida aos mais necessitados, mas não nos preocupamos em saber quanto custa e nem mesmo de que forma a verba para levar essa comida está sendo administrada. Somente quando os escândalos de corrupção (quase que diários) são noticiados é que "comentamos acaloradamente" o quanto repudiamos esse tipo de comportamento, que a política é isso, é aquilo etc e tal.
Quando nosso eleitor tiver merecido ter seu voto com peso 2, certamente a nossa sociedade será fortalecida.
Uma boa educação de base para os nossos filhos é o essencial.
Um bom hospital é o mínimo que queremos depois de pagar tantos impostos.
Um eleitor capacitado e consciente é o mínimo que nossa democracia merece.
Você sabe como podemos fazer mudanças relevantes em nosso país, antes mesmo de estabelecer a meritocracia eleitoral?
Cuidando de perto do nosso capital e de quem o administra.
Sabe como?
Levantando, documentando, analisando, melhorando, realizando e monitorando os nossos processos públicos. Dessa forma saberemos como cada recurso é utilizado, como os serviços são prestados, o que está certo, e o que não está.
Não há politicagem ou “esquema” que resista a uma transparência pública efetiva.
Com o gerenciamento dos nossos processos (os processos públicos brasileiros), teremos condições de sobra para prover melhores serviços ao cidadão, utilizando cada vez melhor os nossos recursos e, dessa forma, caminhando para uma real igualdade social e de direitos. Este é o verdadeiro BPM Social.
- Chega dessa procrastinação eterna de responsabilidades.
- Chega de bolsas!
- Eu quero profissionais, processos e serviços melhores.
Vamos começar?
Grande abraço,
Gart Capote