segunda-feira, 26 de setembro de 2016

O Novo Cenário de BPM no Brasil


Estamos vivendo um momento bastante peculiar em nosso país, não só pelas questões político-econômicas, mas também estamos enfrentando grandes desafios no âmbito das organizações. Por isso, quero falar com você sobre alguns pontos muito importantes em nosso cenário mais atual e para os próximos anos.
Setembro de 2016, ainda estamos na segunda década de 2000 e, diariamente, testemunhamos grandes mudanças em negócios por todo o mundo. Em poucos anos de retrospecto, conseguimos destacar grandes transformações, tais como o surgimento do Uber, Netflix revolucionando a forma como nos relacionamos com a televisão, carros elétricos, carros autônomos, a preocupação com a sobrevivência de nossa espécie sendo pano de fundo para aplicação da economia circular, os modelos de compartilhamento e servicilização de produtos etc. Avaliar a evolução dos negócios nos últimos 6 anos é uma tarefa bastante enriquecedora e, obviamente, inspiradora para os próximos anos que virão.
Porém, em nosso país, apesar de experimentarmos a modernidade e a evolução em muitas frentes, continuamos com alguns “pequenos detalhes” estacionados no século XIX e XX. Nosso serviço público continua precisando de muito esforço para melhorar e, um dia, se tornar algo minimamente aceitável. Nossa capacidade de trabalho continua muito aquém dos padrões de países desenvolvidos. Sofremos de perda de competitividade por fatores recorrentes e históricos, tais como, burocracia, desperdício, processos obsoletos e baixa qualidade ou confiabilidade em produtos e serviços.
Essa constatação, imediata e fácil para qualquer pessoa, não tem a intenção de ser desanimadora ou ser um lamento. Pelo contrário. Escrevo isso para, mais uma vez, reforçar em nossa rede a necessidade de agirmos com seriedade, coragem e perseverança.
Compilei alguns números recentemente e vou utilizá-los para orientar nossa conversa nesse artigo.
No Brasil, atualmente, temos mais de 16 milhões de empresas ativas. Seria um número incrível, se todas estivessem em boa situação e em condições de sobrevivência e/ou crescimento. Porém, desse total, mais de 13 milhões é formado apenas por micro e pequenas empresas – que possuem alta taxa de mortalidade e baixa expectativa de vida.
Sendo assim, nos resta pouco mais de 2.4 milhões de médias e grandes empresas – o que também é um número bem impressionante. Vamos utilizar esse valor para fazer uma pequena estimativa.
Se cada média/grande empresa possui ao menos 10 profissionais que atuam diretamente na gestão organizacional (nível tático/operacional), de maneira bem realista, temos um universo de aproximadamente 24 milhões de profissionais atuantes na área. Se apenas 1 de cada 10 profissionais desse montante tiver interesse em se especializar em gestão por processos, teríamos, facilmente, mais de 2 milhões de especialistas (os CBPPs). 
Quando observamos o número de CBPPs atualmente no Brasil, percebemos que não alcançamos nem 0,05% do total possível. E a pergunta inevitável é, por que não?
Depois de muito refletir sobre esse Gap, encontrei algumas questões e acredito que estamos pecando em diversos princípios. Sem querer me estender demais nesse post, vou elencar apenas 2 pontos que considero como principais para mudarmos esse resultado.
  • Até agora, só falamos com profissionais de processos.
Sim. Somos uma associação de profissionais de processos, mas não apenas. Precisamos incluir outras “personas” em nossos eventos, livros, artigos, podcasts etc.
Só conseguiremos a devida atenção ao que precisa ser feito quando incluirmos outras pessoas na conversa. Enquanto falarmos esse dialeto que só é conhecido ou interessante para outros especialistas, nos manteremos isolados e a margem do potencial que a disciplina possui.
A ABPMP Brasil vai tratar de resolver isso. Como eu sei? Tenho certeza de que a rede vai se unir e ajudar. Sabemos que falar com mais pessoas vai fortalecer a profissão e trazer os resultados que tanto precisamos em nosso país. Contem comigo.
  • A maturidade das organizações no Brasil.
Quem me conhece sabe que vivo o mundo BPM desde 2003 e viajo para cada canto desse país levando o tema e ajudando profissionais e organizações. Sendo assim, mesmo que “empírica”, fiz uma pesquisa e compilei 4 grandes grupos de maturidade nas organizações.
Vou chamá-las de “Personas Nacionais de Maturidade”, e a ideia é apresentar o nível de maturidade de cada uma frente a sua realidade diária e ambições.
Sem querer avançar muito, pois tratarei desse detalhamento das personas em outro artigo, posso dizer para você que, hoje, e aproximadamente, 60% das organizações (médias/grandes) vivem em um estágio inicial e focado na própria sobrevivência. Para a outra persona organizacional, em torno de 20% está buscando por estruturação de seus processos, sendo que 15% (a terceira persona), já atua com foco em melhoria consistente de resultados. Infelizmente, apenas 5% (a quarta persona) estaria em nível avançado e consistente a ponto de focar em transformação de produtos, serviços e, até mesmo, alteração no modelo de negócio.
Como disse antes, não tenho a pueril pretensão de ser exato nesses números, mas preciso mostrar o quanto ainda temos que trabalhar. 
É função do profissional de BPM apoiar as organizações nesse avanço, precisamos fazer com que as organizações evoluam. 
Para a maior parte das empresas que considerei nesse levantamento, ver e ter pela primeira vez seus processos documentados de maneira estruturada já é uma grande vitória. Para muitas outras, já é chegado o momento de transformar a estrutura de processos em ações repetíveis e consistentes para o avanço na forma de melhoria. Porém, também temos o outro lado. Quase 5% desse total já possui um olhar mais ambicioso e até disruptivo, e isso é muito bom para todos. 
Para finalizar este breve artigo, gostaria de reforçar um ponto. Hoje, profissional de processos ou interessado em gestão organizacional, seu desafio imediato é ajudar 2.4 milhões de empresas a evoluir em suas práticas de gestão. Chegará o momento em que a evolução por melhoria continua não bastará para essas organizações. Nesse momento, você será útil na viabilização e estruturação de grandes transformações organizacionais.
O profissional precisa entender que o jogo é dinâmico. O lado esquerdo do nosso cérebro, é um ativo humano que já possui data de validade. Nossa capacidade lógica é alvo da evolução tecnológica, com robótica, softwares, BPMS etc. Lembre-se, a tecnologia de automação já substitui nossos ossos e músculos em muitas operações. O próximo passo, já sabemos qual é.
Porém, o lado direito do nosso cérebro ainda é algo misterioso e distante para as máquinas. Como ensinar empatia? Sensibilidade, apreciar arte, música, relações humanas? Essas são habilidades que nós, profissionais da lógica, precisamos desenvolver. 
É cada vez mais anacrônico pensar em melhoria de processos sem considerar o foco do cliente. Como pensar em produtos e serviços sem considerar os momentos da verdade na jornada do cliente? 
A nossa capacidade de entender o cliente e se colocar no lugar dele é um grande diferencial. Infelizmente, ainda pouco utilizado pelos nossos colegas que trabalham com o lado esquerdo a maior parte do tempo (pode me incluir nessa lista).
Temos um belo e desafiador horizonte no mundo da gestão e dos negócios. Cada vez mais seremos desafiados a usar os 2 lados do nosso incrível cérebro
Vou explorar esse e outros temas nos próximos artigos. Acompanhe os posts e faremos juntos essa jornada, afinal, o desafio é inexoravelmente nosso.
A pergunta que deixo para reflexão:
Em nossa evolução social, significância (1) epropósito (2) são elementos que reduzem cada vez mais o gap entre a prosperidade material e a satisfação pessoal. Como podemos levar esses elementos (1 e 2) para nossos processos, produtos e serviços?
Dica: Aproveite seu lado direito do cérebro e sua incrível capacidade de empatia para responder.
Por favor, compartilhe este material com sua rede.
Grande abraço e até o próximo post!

2 comentários:

Felipe disse...

Acho muito oportuno quando você fala que para chegar ao ponto da disrupção é necessário masterizar os processos existentes, não adianta destruir algo que está começando a se organizar!

Unknown disse...

Gart, obrigado por compartilhar estes números, pois concluí que estou junto com a grande maioria nos 60%, e talvez nem consiga, nesta encarnação, vivenciar na gestão de elite dos 5%.

Em relação à sua pergunta, acredito que a resposta esteja no grupo dos 5%, nos quais devem se espelhar os outros 95%, mas conscientes da existência de uma grande barreira cultural a ser vencida.

Neste problema enxergo 2 pontas, em um lado estamos nós, profissionais de processos e no outro lado estão os donos das empresas e diretores.

(BOTTOM-UP) Nós, profissionais, devemos ter a consciência de que gestão por processo é o objetivo, mas é necessário uma implementação gradativa, dando tempo para a mudança cultural. Colocar gestão por processos ponta-a-ponta em uma empresa que ainda não é aderente fará com que todo o trabalho venha por água abaixo, caindo em descredito todo conceito maravilhoso de BPM, e a empresa voltará a trabalhar novamente na forma que ainda está impregnada em sua cultura.

(TOP-DOWN ... usando o Lado Direito do Cérebro) Por outro lado, como você disse Gart "Só conseguiremos a devida atenção ao que precisa ser feito quando incluirmos outras pessoas na conversa.", então, se os donos das empresas e seus diretores começarem a prezar pela gestão por processos, o progresso na mudança de cultura vai ser grande e creio que a nossa Pirâmide Quantiqualitativa terá mudanças bem mais rápidas.